Tentativa Poética
ou
O que eu perdi?
Os livros estavam todos no chão, mas ela pisava e bagunçava ainda mais...
Mãos no cabelo, ódio, tudo sem pudor...
Quem disse que podia entrar e fazer isso, fazer assim?
Eles eram tão pesados, tão importantes, mas caíram.
Prateleiras à baixo, ferros contorcidos,
páginas debruçadas em realismo d'uma poética desditosa.
Poética do caos, da cólera,
de tentativas que beiram a loucura.
Folhas caíam duelando com o ar, aladas, sem rumo...
Rimas e versos clamavam por redenção.
Via-se mesmo um grande ato,
a cena épica do vazio gritante e nocivo
de quando nos falta o sentido...
Sentido este, que até então, para ela estava nas letras.
Andando de um canto a outro sem explicações, sob o peso dos pensamentos que nunca teve expressos. Deixou na linha de um contexto oculto, marcas de vidas e possibilidades.
Foi quando olhou o cômodo, os cantos, a sala...
Respirou dissuadida
vertendo o cheiro do mofo
nos ares do fim.
Fechou os olhos,
trancafiou as chaves do cerco
de sua prisão
e sumiu;
sumiu em si.
Dizendo que nunca mais voltaria.
Aquele momento, aqueles livros, aquela sala...
Meta-afora,
Metáforas,
Basta! Adeus tentativa poética...
Um,
dois,
três,
quatro passos de distância, foram como meia-volta... Nem um minuto, e já estava lá outra vez.
Ali, exatamente ali,
para entender como tudo aconteceu.
Não é como perder a memória,
não é como dormir e não acordar.
É viver com um peso, com gosto na boca,
é saber que não se sabe o que fez ou fará
com aquilo que se perdeu.
Maisa Maciel
25.08.2016
10h45