Velejar ou meu enigma

segunda-feira, 27 de julho de 2015


Velejar 

ou

                  meu enigma




Um barco
Um quadro
Um barco sozinho... 

As ondas fortes e impetuosas batem no seu casco...
Lá está ele sendo acoado pela imensidão do mar,
arrastado de um lado a outro,
e mesmo sozinho,
Lá está ele sendo diminuto no seu meio
confuso de ser.

E quem nunca lutou 
esbravejante
no tal do infinito  
verde, azul, anil?

Sou proa
para os males da vida
surrando a pele dia e noite
com pancadas contínuas
que por anos levam na imensidão
do mistério
meu enigma.

Que o mar se agite!
Que os ventos soprem fortes!
Quero ondas que rebentem 
no meu casco!

É a força das ondas
o mal da agressividade
são os ventos fortes
que me fazem velejar!

Como um barco
na turbulência
dou as costas à dor
e faço dessa tempestade
impulso
para avançar no meu caminho.

Içar as velas!
Maisa Maciel
22h30
27.07.15

2 comentários:

Yuli disse...

Eu li esse poema e, depois de uns belos anos, lendo Kierkegaard me deparei com esse trecho:

"Frente às tempestades da paixão o meu espírito é como um mar enraivecido. Se alguém pudesse surpreender a minha alma em tal situação, julgaria ver uma barca mergulhando a pique no mar, como se, na sua terrível precipitação, a sua rota marcasse o fundo do abismo. Não veria que, no cimo do mastro, vigia um marinheiro. Forças frenéticas, erguei-vos, ponde-vos em movimento; ó potências da paixão, ainda que o choque de vossas vagas conseguisse lançar a espuma até as nuvens, mesmo assim não serieis capaz de vos erguer acima da minha cabeça; mantenho-me tranquilo como o Rei das falésias.

Quase não consigo firmar os pés; como ave marinha tento em vão mergulhar no mar tempestuoso do meu espírito. E, no entanto, tal tempestade é o meu elemento, nela edifico como Alcedo ispida constrói o seu ninho sobre o mar."

Um grande abraço

Maisa Maciel disse...

Muito interessante o trecho e a relatividade em forma de lembrança.
Gostei, obrigada!

"tal tempestade é o meu elemento".

Abraço.