Velejar
ou
meu enigma
Um barco
Um quadro
Um barco sozinho...
As ondas fortes e impetuosas batem no seu casco...
Lá está ele sendo acoado pela imensidão do mar,
arrastado de um lado a outro,
e mesmo sozinho,
Lá está ele sendo diminuto no seu meio
confuso de ser.
E quem nunca lutou
esbravejante
no tal do infinito
verde, azul, anil?
Sou proa
para os males da vida
surrando a pele dia e noite
com pancadas contínuas
que por anos levam na imensidão
do mistério
meu enigma.
Que o mar se agite!
Que os ventos soprem fortes!
Quero ondas que rebentem
no meu casco!
É a força das ondas
o mal da agressividade
são os ventos fortes
que me fazem velejar!
Como um barco
na turbulência
dou as costas à dor
e faço dessa tempestade
impulso
para avançar no meu caminho.
Içar as velas!
Maisa Maciel
22h30
27.07.15
2 comentários:
Eu li esse poema e, depois de uns belos anos, lendo Kierkegaard me deparei com esse trecho:
"Frente às tempestades da paixão o meu espírito é como um mar enraivecido. Se alguém pudesse surpreender a minha alma em tal situação, julgaria ver uma barca mergulhando a pique no mar, como se, na sua terrível precipitação, a sua rota marcasse o fundo do abismo. Não veria que, no cimo do mastro, vigia um marinheiro. Forças frenéticas, erguei-vos, ponde-vos em movimento; ó potências da paixão, ainda que o choque de vossas vagas conseguisse lançar a espuma até as nuvens, mesmo assim não serieis capaz de vos erguer acima da minha cabeça; mantenho-me tranquilo como o Rei das falésias.
Quase não consigo firmar os pés; como ave marinha tento em vão mergulhar no mar tempestuoso do meu espírito. E, no entanto, tal tempestade é o meu elemento, nela edifico como Alcedo ispida constrói o seu ninho sobre o mar."
Um grande abraço
Muito interessante o trecho e a relatividade em forma de lembrança.
Gostei, obrigada!
"tal tempestade é o meu elemento".
Abraço.
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