Modernismo - Primeira Fase

domingo, 13 de março de 2011

  Espero que essa minha intensidade nos estudos sobre Manuel Bandeira, ao longo do ano, contribua e muito aos queridos leitores.
Segue o primeiro estudo/trabalho que realizei:

A ESCRITURA DA PERDA: BANDEIRA DE UMA VIDA INTEIRA

   Tendo como foco a perda Bandeiriana que concebe a poética intensa duma vida inteira, este trabalho visa à contemplação do poeta que traduz seus desgostos íntimos por meio de linguagem sentimentalmente expressiva carregando a dor, o tédio e a solidão para sustentação de sua condição destitosa. Também resgataremos o percurso parnaso-modernista do audacioso cavalheiro que ‘não feriu aqueles donde veio, nem aqueles aonde foi’. Buscaremos sempre pormenorizar aspectos fundamentais através dos seus escritos, de suas pequenas/grandes peças da engrenagem que ajudou a abrir caminho para o verso livre e para uma dicção poética, à brasileira.
  Manuel Bandeira encontrou-se sob a permanente consciência da morte e inda permeou com intensa ternura uma sensibilidade moderna. Por lirismo elegíado e versos de grande erudição, traduziu um tempo não-reconciliado, ‘marcado pelo mau destino’; singrando nas perdas mais simples do cotidiano e deixando o presente entregue à frustração.
  Entregou-se a poesia, a atração, ao sublime, ao ritmo dissoluto mantendo o espírito aberto para a fala singela e a escrita afetiva. Defendeu a ampliação dos limites da retórica literária trazendo para a expressão de menos concisão e elegância, mais caráter.
  Farto do lirismo comedido, o poeta de Pasárgada era um homem assim, de dicção delicada, mas ousada.
                                                                                                Maisa Maciel


Queria ser


Queria ser pólen
Morar na flor
Ser parte, complemento
E assim envolto a pétala
Servir-lhe de alento.
Ser levado ao mundo
Aos lugares
Nos ‘braços’ da ave percorrer os ares,
Cair no solo
Extinguir-me para o surgimento
Ou cair no manto
D’outro firmamento.

Logo quem passasse
O perfume sentiria
E correndo, sorrindo
Ao meu encontro viria. 
Anestesiados ficaríamos
Parados no tempo
Tão quietos tão livres
Por olhares atentos,
Não mais pólen
Nem posse de flor,
Mas momento...
E eu ainda querendo 
Conter o pensamento.
                                                         Maisa Maciel


Para uma nova perspectiva estética

Aqui deposta

E nessa letargia... Entre a abertura e a tragédia lírica.
Segue um poema que exprime 'o momento (meu)'.

"Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos

E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.

Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.

Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei."
                                     
Sophia de Mello Breyner Andresen