Um dia que se fez Eterno

domingo, 10 de agosto de 2014



Um dia que se fez eterno

ou

                                            "O diferente"


       As escadas serviam de alento para aquela menina de traços fundos tão bem marcados por um ar misterioso, e era nesse instante que sentia o vento beijar-lhe a face, levemente sussurrando na imensidão do silêncio. E o vento pairava cada vez mais percorrendo a criança, percorrendo seu olhar, suas mãos e o solo no qual brincava com folhas secas. Ela girava e sorria com os braços abertos fitando o céu à espera das folhas que estavam por cair... Foi quando percebeu que dentre tantas folhas secas presas aos galhos havia "algo diferente". Menina misteriosa que era, começou a pular com um graveto na mão e a esticar, e a erguer os braços numa agitação contínua de um canto ao outro, mas "o diferente" parecia brincar com ela... Nada caiu, nada aconteceu. E ela estava tão cansada que prostrou-se ao chão para ser afagada pela multidão de folhas secas, e observar coisas por entre as árvores excessivamente velhas. Talvez a menina recebesse resposta ou alívio, não se sabe, nunca se sabe, afinal tudo era tão redentor.



      A construção dos seus sentimentos, dos seus pensamentos, iam embora com a tarde que levava o calor desejoso do sol ao banhar sua pele. Então, inclinou calmamente sua cabeça rumo aos últimos feixes de luz que aos poucos ofuscavam o olhar. Levantou-se e ficou cambaleante quase sem forças... Fincou o graveto oco e vulnerável, igual a ela naquele momento, em solo arenoso e respirou a poeira macilenta que embriagou-a... Tossindo, to-to-tossindo, tirou com dificuldade seu penduricalho do pescoço e amarrou-o no graveto como sinal de importância de um legado para o momento vivido... E seguiu às vezes olhando para trás, às vezes para o céu, mas sempre pensando no misterioso e curioso "diferente". Assim, seus pés empoeirados seguiram por entre a mata, e mal sabia a menina que deixava vestígios pelo caminho, vestígios derramados no solo que um dia se fez eterno para poder dizer que ela nunca esteve sozinha.


Maisa Maciel
20h50
10/08/14

0 comentários: